30 de mai. de 2006

Para sempre

Às vezes eu sou
Às vezes não sei
Às vezes nem vou
Às vezes cansei

Há noites iguais
Outras demais
Dias perfeitos
E os com defeito

Há sol que castiga
Chuva que anima
E o contrário também

Há miséria e riqueza
Alegria e tristeza
Na mesma calçada
Na mesma noitada
Na mesma cabeça

Às vezes não sou
Às vezes bem sei
Às vezes eu vou
Às vezes gostei


mrs. mojo rising

23 de mai. de 2006

Perguntas que não querem calar - Parte I

Na chuva

- Por que as pessoas continuam com o guarda-chuva aberto quando já parou de chover?

- Por que as pessoas continuam com o guarda-chuva aberto embaixo de uma marquise?

clarissa

20 de mai. de 2006

Só a arte salva (ou quase - só e salva)

[...]

Embora já tenha chorado e jejuado, chorado e rezado,
Embora já tenha visto minha cabeça (a calva mais cavada)
servida numa travessa,
Não sou profeta - mas isso pouco importa;
Percebi quando titubeou minha grandeza,
E vi o eterno lacaio a reprimir o riso, tendo nas mãos meu
sobretudo.
Enfim, tive medo.

E valeria a pena, afinal,
Após as chávenas, a geléia, o chá,
Entre porcelanas e algumas palavras que disseste,
Teria valido a pena
Cortar o assunto com um sorriso,
Comprimir todo o universo numa bola
E arremessá-la ao vértice de uma suprema indagação,
Dizer: "Sou Lázaro, venho de entre os mortos,
Retorno para tudo vos contar, tudo vos contarei."
- Se alguém, ao colocar sob a cabeça um travesseiro,
Dissesse: "Não é absolutamente isso o que quis dizer,
Não é nada disso, em absoluto."

E valeria a pena, afinal,
Teria valido a pena,
Após os poentes, as ruas e os quintais polvilhados de rocio,
Após as novelas, as chávenas de chá, após
O arrastar das saias no assoalho
- Tudo isso, e tanto mais ainda? -
Impossível exprimir exatamente o que penso!
Mas se uma lanterna mágica projetasse
Na tela os nervos em retalhos...
Teria valido a pena,
Se alguém, ao colocar um travesseiro ou ao tirar seu xale às
pressas,
E ao voltar em direção à janela, dissesse:
"Não é absolutamente isso,
Não é isso o que quis dizer, em absoluto."

[...]


(T.S. Eliot, traduzido por Ivan Junqueira)

19 de mai. de 2006

Pílulas

Ontem, fui dormir hoje. Acordei assustada, você esteve aqui. Não, não esteve, foi sonho. Não, esteve, eu vi, embora não pudesse me mexer. Eu vi você e todo o quarto, que não era o meu, e alguém dizia "eu também quero, eu também quero". Quem dizia? Eu? Você? Havia mais alguém? Eu não sei mais se quero, mas poderia ter dito isso, porque ando muito confusa e cansada. Mas você não diria, porque não quer, eu já sei. E mesmo que quisesse, não diria. Eu sei que você só diz coisas bonitas quando quer dizer coisas feias. E diz coisas feias quando quer dizer coisas bonitas. O que você não sabe é que nem sempre coisas bonitas são mesmo bonitas. E nem sempre coisas feias são mesmo feias. E se você disser que eu estou repetindo as palavras, eu posso dizer que faz parte do meu estilo, quando, na verdade, faz parte apenas do meu cansaço. Eu ando muito cansada, sabe? Um cansaço de como se eu não dormisse há anos. É que não tenho dormido muito bem. Não, não tem a ver com você. Não sempre. Às vezes teve. Às vezes tem. Como ontem, que fui dormir hoje, e acho que sonhei que você esteve aqui, aqui num lugar que nem é o meu quarto e que eu nem sei de quem é. Ou não foi sonho?

clarissa

11 de mai. de 2006

Motivos

Porque foi um beijo bom,
inesperado.
Porque foi na rua,
noite de lua cheia.
Porque vi o medo em você,
e em mim,
e minha noção de sobrevivência
é mínima.
Porque eu quis
como há muito não queria.
Porque você quis,
ao menos por um certo tempo.
Porque senti que o conhecia
há anos, décadas, séculos.
Porque foi o que de melhor
me aconteceu nos últimos tempos,
embora esteja sendo, agora,
o pior.


mrs. mojo rising