28 de jun. de 2007

25 de jun. de 2007

Os grandes* I

Ela teve que fazer um esforço sobrenatural para não morrer quando uma potência ciclônica, assombrosamente regulada, levantou-a pela cintura e despojou-a da sua intimidade com três patadas, e esquartejou-a como a um passarinho. Conseguiu dar graças a Deus por ter nascido, antes de perder a consciência no prazer inconcebível daquela dor insuportável, chapinhando no lago fumegante da rede que absorveu como um mata-borrão a explosão do seu sangue.

Três dias depois, casaram-se na missa das cinco.

(...)

Na noite de núpcias, Rebeca teve o pé mordido por um escorpião que se metera nas suas pantufas. Ficou com a língua dormente, mas isso não impediu que passassem uma lua-de-mel escandalosa. Os vizinhos se assustavam com os gritos que acordavam o bairro inteiro até oito vezes por noite, e até três vezes durante a sesta, e rogavam para que uma paixão tão desaforada não fosse perturbar a paz dos mortos.


(Gabriel García Márquez - Cem anos de solidão)

*Esse trocadilho ficou ótimo!!! :)

bonnie

18 de jun. de 2007

Salvação

Eu o tive a meus pés. O homem que rezava pela minha alma com o medo de criança, de quando se escondia de Deus atrás da cortina da sala; com a sacralidade de quando velava um bichinho que ele mesmo matara; com a tristeza do dia em que a mãe, vinda da Idade Média de um Portugal salazarista, lhe comprou um sorvete com o troquinho da feira e o guardou no armário, sem saber que tal matéria derretia. Pensava poder me salvar. Acendia velas, uma por dia, depois duas, depois três, quatro, cinco, até chegar ao número de vinte. Vinte velas por dia pela salvação de minha alma.

Eu o tive a meus pés, não porque fizesse todas as minhas vontades, atendesse aos meus mais ignóbeis caprichos, caprichos de quem se sabe perdida para sempre. Eu o tive a meus pés porque tantas e tantas vezes me acompanhou na febre da madrugada, me aquecendo, escutando meus delírios que às vezes se voltavam contra ele próprio. Eu o tive a meus pés porque negou outras mulheres. Porque preferiu estar comigo até o fim a se aventurar com fêmeas mais bonitas, mais fáceis, mais saudáveis. Porque perdeu um tempo precioso de sua juventude me amando como um homem deve amar uma mulher e uma mulher deve amar um homem, com intensidade e sinceridade, com entrega e sacrifício. Eu o tive a meus pés porque, para me salvar, foi capaz de se curvar até o chão com dignidade, até o nariz tocar o chão, até seus lábios beijarem meus pés, com a humildade dos sábios e a coragem dos justos.

Um dia, porém, pedi para o homem que tive a meus pés partir, que minha luta involuntária era mais forte que a dele, não havia chance de salvação. Sempre estive em guerra contra o desconhecido, meu inimigo invisível era o que me movia, é o que me move. Ele foi, justamente por ser um homem capaz de estar com hombridade aos pés de alguém. Jamais ficaria se não fosse bem-vindo. Acreditava que ninguém pode ser salvo se não o desejar, se não confiar. Desejar, desejei, com todo o meu corpo, toda a minha energia, toda a minha febre e loucura. Mas nunca, em tempo algum, consegui obter a fé necessária.


mrs. mojo rising

Pausa nas pretensões literárias VI

Acabei de conhecer certamente um dos homens mais bonitos do mundo, um norueguês que se parece com o Johnny Depp. E ele puxou assunto comigo!!! Mas estávamos num ônibus e eu tinha de saltar logo. Aiaiai, a vida vale a pena, minha gente. Ah, se eu morasse na zona sul... Aiaiai.

bonnie

16 de jun. de 2007

Pausa nas pretensões literárias V

Tem gente que, em momentos de lazer, assiste a algum esporte ridículo na TV. Eu prefiro participar de discussões ridículas em comunidades do orkut. A última delas foi sobre moda. Os meninos do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ) reclamavam que as meninas do IFCS se vestem mal. Perguntei o que é se vestir bem. Alguém disse que a mulher, entre outras coisas, tem de estar cheirosinha. Perguntei se estar cheirosinha é usar perfume. E daí comecei uma odisséia contra o perfume. Sim, eu odeio perfume. Vou colocar aqui um resumo das minhas opiniões sobre o assunto.

Eu odeio perfume. Acho brega, cafona, desnecessário. Coisa de francês, que não costuma tomar banho (reparem na vírgula, reparem na vírgula). Acho enjoativo ficar com o mesmo cheiro por horas a fio. Às vezes me dá alergia, além de misturar com o cheiro do shampoo, do sabonete e do desodorante. Aliás, desodorante, prefiro os sem cheiro. Se existisse sabonete sem cheiro, também iria preferir. Só para o shampoo é que abro uma exceção.

Quando eu era adolescente, tinha um perfume que os meninos costumavam usar na "night" que me deixava muito irritada, acho que era o Dimitri. Primeiro porque eu já não gostava de perfume. Segundo porque quase todos usavam o mesmo. Quer coisa mais cafona que isso? Mas o pior de tudo são aqueles caras que deixam um frasco no carro. O sujeito fica o dia inteiro na rua, tasca aquele troço fedido nos pulsos e no pescoço para a "night" e acha que ficou com cheiro de botão de rosa. É cafona demais.

Também tem aquele que tomou banho e passou o perfuminho em casa, mas antes de saltar do carro, tasca mais um pouco do frasco que deixou no porta-luva. Se bobear, no meio da noite, tasca mais um pouco. Arght. E quando mistura com suor, então? Deusmelivreeguarde.

Na discussão, me perguntaram a origem desse ódio. Ora bolas, se eu dissesse que não gosto de beterraba, alguém me faria essa pergunta? Que gente mais chata, que não aceita opinião contrária. Não disse que quem usa perfume tem de morrer. Nem disse que quem usa perfume é cafona. Eu disse que acho cafona o uso do perfume. Mas tenho a impressão de que quase ninguém entendeu a sutil diferença.

Outro disse que me daria uma caixa de perfume para tentar acabar com meu "trauma". Aiai, trauma. As pessoas têm mesmo dificuldade em aceitar opiniões contrárias. Depois eu é que sou radical. Bem, eu aceitaria a caixa com prazer. Poderia dar para minha mãe ou amigos ou, então, aderindo totalmente ao mundo capitalista, poderia revender. Mas aí eu vou querer importado, que é mais caro.

Atualmente, meu ódio está até menor, porque meu olfato, por conta da rinite alérgica e do cigarro, tem piorado. Por isso, quando sinto cheiro de perfume em alguém, fico imagino como a pessoa não deve estar fedida!!!

Uma vez, um ex-namorado me deu um perfume, nem me lembro o nome - do perfume, do namorado ainda lembro, infelizmente. Era início de namoro, fiquei sem graça de dizer que não gostava do troço. Aliás, acho que nunca cheguei a dizer. De vez em quando usava, para fazer um agrado. Mas a parada estragou antes de acabar. O namoro também.

bonnie

Pausa nas pretensões literárias IV

"Quem viaja muito no mundo às vezes volta decepcionado com a imagem que se cria do Brasil lá fora. O Brasil é um país tão sui generis que talvez seja o único em que os brasileiros viajam para fora e falam mal do Brasil. Você não vê um suíço falar mal da Suíça, você não vê um italiano falar mal da Itália. Mas os brasileiros adoram. Nós é que temos que cuidar da nossa imagem." - Lula.

Fonte: Folha de S. Paulo.

Sem comentários.

Não, um comentário: estou torcendo para que o Cristo não fique entre as sete maravilhas do mundo.

bonnie

10 de jun. de 2007

Pausa nas pretensões literárias III

Lindíssimas

Caye (Candela Peña)

Zulema (Micaela Nevárez)

"Princesas" - Fernando Leon de Aranoa ("Los lunes ao sol")


Me llaman calle, pisando baldosa
La revoltosa y tan perdida
Me llaman calle, calle de noche, calle de día
Me llaman calle, hoy tan cansada, hoy tan vacía
Como maquinita por la gran ciudad
Me llaman calle, me subo a tu coche
Me llaman calle de malegría, calle dolida
Calle cansada de tanto amar
Voy calle abajo, voy calle arriba
No me rebajo ni por la vida
Me llaman calle y ése es mi orgullo
Yo sé que un día llegará, yo sé que un día vendrá mi suerte
Un día me vendrá a buscar, a la salida un hombre bueno
Pa toa la vida y sin pagar, mi corazón no es de alquilar
(...)
A la puri, a la carmen, carolina, bibiana, nereida, magda, marga,
heidi, marcela, jenny, tatiana, rudy, mónica, maría, maría
(...)



Si la vida te da más de cinco razones para seguir
Si la vida te da más de cinco rincones para dormir
Si la vida te da más de cinco millones para morir
Se fuerza la máquina de noche y de día
Se fuerza la máquina de noche y de día
Si la vida te da más de cinco cabrones para aguantar
Si la vida te da más de cinco lecciones para no seguir
Se fuerza la máquina de noche y de día
Se fuerza la máquina de noche y de día
(...)


(Manu Chao)

mrs. mojo rising

2 de jun. de 2007

Loucura

Sob a lua cheia,
depois de tantas horas,
tantos dias,
meses,
anos,
sem razão para um sorriso sincero,
a morte a espreitar por trás dos carros,
as palavras ferindo os rins,
a angústia descendo com o álcool,
saindo com a fumaça,
o giz e
as pílulas azuis,
sob a lua cheia,
sentindo o frio na espinha,
o aperto no estômago,
a solidão nos olhos-que-procuram,
a falta do amor,
tantos anos,
meses,
dias,
horas,
depois de tudo isso,
depois disso e de mais um pouco,
depois da esperança abandonada e
do suicídio iminente,
do fim da poesia,
do senso de humor,
e depois ainda um pouco e
mais um pouco e
mais um pouco,
apareceu, então,
feito mágica,
a cura dos males,
um mundo perfeito,
o paraíso na Terra,
Deus, nas três pessoas,
respondendo preces,
o melhor amigo,
sob a lua cheia,
desce para
cantar cantigas de ninar
e ouvir e
acalmar
os temores de
duzentos anos de ódio,
amores não correspondidos,
crimes sem castigo,
guerras sem paz.


bonnie/ mrs. mojo rising