3 de ago. de 2010

sem título

Quando a vi entrar pela porta naquela tarde pensei que, sendo mulher, usaria uma meia-calça exatamente igual à que ela usava, mas jamais deixaria o cabelo chegar àquele tamanho, parecia uma evangélica. Definitivamente não gosto de evangélicos; não, é mais amplo, não gosto de religiões, não gosto de quem tem religião, não gosto de Deus, não gosto de nada que eu não possa compreender de alguma forma. Acho que é um tipo de preconceito, mas não faço a menor questão de me livrar dele. Se ela fosse crente, jamais teria me apaixonado. Confesso que seu cabelo gigante prolongou em cerca de quatro horas o nascimento dessa paixão. Posso dizer que, não sendo seu cabelo, eu teria me apaixonado quase à primeira vista. "Quase" porque um cético como eu não se apaixona sem matutar por pelo menos uns minutos, o que mata o conceito de primeira vista. Primeira vista é aquele pá-pum, aquela cena de novela, o sujeito vira em câmera lenta, bate o olho e gama. Tem que ter muita fé, coisa que, já disse, não possuo. Para ser sincero - não que eu não esteja sendo, é apenas uma correção para que tudo fique o mais próximo possível da verdade - nem tenho certeza de que esteja realmente apaixonado. Pode ser apenas um desejo enorme de transar com uma mulher que me é proibida. O proibido pode virar fácil e ilusoriamente o objetivo de uma vida.