28 de jun. de 2006

A vila - um filme sobre medos

Simplesmente lindo. (Estou falando do filme. Mas Joaquin Phoenix também se encaixa nesse adjetivo, claro.)



"Às vezes, nós não fazemos o que queremos. E as pessoas ficam sem saber o que queremos."

"- Por que você não fala o que pensa?
- E por que você fala tudo o que pensa?"

"- O que o faz pensar que ele tem interesse em mim?
- Ele não a toca."

Melhor cena:

A moça, cega, está na porta de casa com a mão estendida, enquanto todos já estão devidamente protegidos no porão, fugindo de "aqueles de quem não falamos". Ela espera pelo moço que ama, que estava do lado de fora da casa, para poder fechar a porta e se esconder também, com ele, no porão.

Essa confiança, essa certeza de que se deve correr perigos pelo seu amor, pois, sem ele, a vida não fará sentido, é a melhor coisa que alguém pode sentir. Mas às vezes sinto que não sou mais capaz disso, que nunca mais serei.

mrs. mojo rising

22 de jun. de 2006

A morte, ela, aqui, depois

Sempre achei esquisito uma pessoa morta, porque não consigo ver uma pessoa ali. Parece um boneco. E sempre me dá vontade de dizer "ei, acorda, vamos dançar, está um dia lindo lá fora". E estava mesmo lindo aquele dia em que a vi deitada, como uma boneca. Como se a vida se despedisse, feliz por mais uma que cumpre sua função e se vai, em paz. Mais uma que vai parar de sofrer, porque essa vida é mesmo um sofrimento. Mais uma que sai desse mundo que só pode ser uma piada de muito mau gosto.

Tanta coisa que eu não disse. E se tivesse dito? Ali, deitada, ela não era mais uma pessoa e nada do que eu tivesse dito faria diferença. Alguns chegavam e falavam com ela. Eu não consegui. Eu mal conseguia chegar perto. De que adianta ela ali, deitada, sem sorrir? E depois, quando a colocaram naquele lugar, eu consegui ajoelhar e rezar e chorar e ficar triste como nunca. Triste como nunca antes estive. Cada porrada que eu levo acho que é a pior, mas não demora muito vem outra, uma ironia imbecil, como quando a gente diz "só falta chover", e no minuto seguinte começa a chover.

E por mais que eu dance, que eu cante, que eu sorria, que eu beba, que eu fume, que eu beije, que eu escreva, por mais que faça tudo que tenho feito desde então, sempre fica a tristeza lá, martelando em algum canto do cérebro, algo pesando, me puxando para baixo. E, principalmente, por mais que eu fique triste de repente, vem a lembrança dela me fazer recordar que é só para a morte mesmo que não há solução. Ahhhh... Como uma frase batida faz um sentido dos diabos! Eu, que sempre tento fugir dos clichês, não posso escapar disso agora: é só para a morte que não há solução. É só diante dessa bendita-maldita que se fica completamente impotente. Não dá para escrever carta, pedir desculpas, revanche, fazer a fila andar, sair de casa, procurar outro emprego. Nada. Não se pode fazer nada. Absolutamente nada.

Eu queria muito, muito mesmo, que existisse algo depois. Lembro que pensei nisso pela primeira vez aos sete, oito anos de idade, andando de bicicleta aqui na vila. Eu tinha ouvido um papo dos meus pais sobre o assunto e fiquei impressionada. Meu pai fez uma metáfora de um ventilador pifando com a vida se esvaindo - meio brega, admito, mas interessante - e minha mãe falou alguma coisa sobre alma. Aquilo ficou na minha cabeça. Eu fiquei pensando que seria legal morrer e rever as pessoas queridas que morreram antes. E hoje eu penso nisso com tanta força, com tanta vontade, que chego a quase acreditar.


mrs. mojo rising

17 de jun. de 2006

Por que me ufano de Dapieve

(...) Não é que eu não vá torcer pelo escrete, nada disso. Também não se trata daquela velha arenga de esquerda, "o futebol é o ópio do povo". Vou torcer desesperadamente, como fiz quando do regime militar, da República de Alagoas ou do tucanato. Contudo, ando irritado com a transformação da torcida pela seleção do Brasil em orgulho de ser brasileiro. (...)

Arthur Dapieve em No Mínimo.

bonnie

Posso passar mal também?

Peraí, deixa ver se eu entendi: Ronaldo ganha muito dinheiro, muito dinheiro mesmo, para jogar futebol. De quebra, pega muita mulher bonita e faz uns comerciais que lhe dão mais grana e fama ainda. É admirado e reconhecido no mundo todo. Quase todos os brasileiros torcem por ele nesta Copa do Mundo, assim como torceram na anterior e entenderam o seu piripaque. Ainda assim, ele precisa de carinho para poder jogar bem? É isso mesmo? Se ele não se sentir amado - coitado! - ele não consegue jogar bem?

Acho que eu vou usar esse argumento aqui no trabalho também: "Olha, chefinho, hoje eu não vou escrever as matérias direitinho, não, porque você não está me dando carinho suficiente, viu? Mas nem pense em me demitir ou reduzir meu salário no fim do mês. Se o Ronaldo pode, eu também posso. Agora dá licença que eu vou passar mal".

mrs. mojo rising/ clarissa

16 de jun. de 2006

15 de jun. de 2006

Abelha se mata num copo de café

Uma abelha de nome e idade indefinidos matou-se nesta quinta-feira, por volta das 15h, caindo dentro de um copo de café. O copo, de plástico, estava em cima de uma mesa do setor de comunicação social do Palácio Guanabara, e pertencia à jornalista MC, que não quis se identificar. "Estou muito abalada com esse suicídio. Me sinto responsável, pois, afinal, fui eu que coloquei o copo ali, com o café quente dentro. Será que foi suicídio mesmo? E ainda que tenha sido, de qualquer forma, eu facilitei", disse MC, aos prantos.

Foi encontrado, porém, em cima do computador que MC usava, um bilhete, provavelmente uma carta-despedida-explicativa da abelha suicida. Especialistas em linguagens de animais ditos irracionais estão agora tentando decifrar o conteúdo do papelzinho. "Temos de verificar o tamanho dos "z" e a forma como foram escritos, se têm serifa ou não, se estão em negrito ou itálico, e outros detalhes, para entender o que a pobre abelha quis deixar para a posteridade", explicou Abelhardo Zangão, cujo nome é uma homenagem a esses bichinhos que fabricam mel.

Até o fechamento desta edição, Zangão havia conseguido decifrar ao menos uma palavra do bilhete: amor.


clarissa

Um dia

Foi um dia assim que imaginei para a gente: eu dizendo coisas bobas, emocionada com uma rosa de Drummond no asfalto, e você, embora não entendendo a metáfora, feliz por estar comigo. Eu não acharia nada esquisito, o seu diferente-mas-igual me animava. A sua tentativa de ser doido. A gente andaria pelas ruas de qualquer país, porque a gente inventaria o país, e depois de anoitecer, quando a lua, lá em cima, desafiasse nossas vistas, a gente faria juras de amor como aquelas que não se cumprem, justamente porque são ditas nos momentos em que se dizem coisas impossíveis. Só os apaixonados são capazes de pensar no impossível.

E eu, que já pensei tantas vezes no impossível, pensei tanta coisa sobre você e sobre a gente. Eu pensei que seria um tempo indeterminado esse de a gente estar junto, como um dia você pediu e eu assenti. E é incrível como, agora, não parece ter sido você. Ontem mesmo sonhei com você, mas não era você. Era você sem ser você. No meu sonho, você não era quem eu achava que era, mas era quem é de fato. Talvez por isso eu esteja bem sem você e em ver você bem sem mim. Porque, de novo, eu havia me apaixonado por alguém que não existe, e você também. Eu não sou aquela, você não é aquele. A gente se confundiu e, agora, não pode mais andar pelas ruas de qualquer país, não pode mais inventar nada nem fazer promessas impossíveis. A diferença entre a gente é que eu acho que sou melhor do que aquela que você imaginou. Mas é claro que o fato de eu ser eu influencia nesse meu juízo de valor.


clarissa

14 de jun. de 2006

Tentativa I

Ainda não consigo escrever sobre você. Aliás, sempre fiz questão de chamar você de você, e não de senhora, porque sempre a senti muito próxima, uma amiga, antes de tudo. E, com amigo, a gente não usa pronome rebuscado.

Ainda não consigo. Já tive várias idéias, mas vou deixar para depois. Só posso dizer, por ora, que sei lá se você está vendo. Meu lado virginiano, cético, diz que não. Mas como sou muitas, há quem diga aqui dentro que você está não só vendo, como rindo aquele seu sorriso cheio de ironia, tão doce e tão debochado ao mesmo tempo.

Ainda não.


clarissa/ mrs. mojo rising/ bonnie

12 de jun. de 2006

Tristes

ESTE BLOG ESTÁ DE LUTO.

clarissa/ mrs. mojo rising/ bonnie

5 de jun. de 2006

A dor e a morte do bichinho

O bichinho ficou ali, durante horas, sofrendo com uma costela quebrada. Quer dizer, não sei se era mesmo uma costela quebrada. Poderiam ser duas costelas quebradas. Ou outra coisa quebrada. Bicho não fala. O certo era apenas que havia algo quebrado dentro daquele corpinho minúsculo, frágil, porque ele não conseguia andar.

O bichinho morreu, enfim. Fiquei aliviada, em parte, pois, com a morte, o sofrimento acabou. Mas comecei a me sentir um pouco culpada, e depois mais culpada, e depois infinitamente culpada, de uma culpa que me curvava os ombros. Achei que deveria ter feito algo, ter trocado de lugar com ele, por exemplo. E nem o fato de ser impossível fazer isso aliviava minha culpa. Eu devia ter trocado de lugar e pronto. Afinal, que diferença faz para a continuidade das coisas que o cadáver seja dele ou meu?

Acho que pensei tanto nisso que, na noite seguinte, comecei a sentir dor no lado direito da minha coluna. Foi uma dor forte, de me prejudicar a respiração. Como se eu tivesse quebrado uma costela. Quer dizer, nunca quebrei uma costela, não sei se a dor é realmente essa. Na hora, achei que sim. E pensei que, tal qual o bichinho, fosse morrer. Resignei-me com o destino e fiquei até alegre, pois não sentia mais culpa. Era como se eu me redimisse, dizendo "olha, bichinho, eu vou morrer também, viu?"

Mas aqui estou, escrevendo. E a dor passou.


mrs. mojo rising