29 de set. de 2006

Vush!

O tempo passa na nossa frente e nada se pode fazer. A gente corre na frente dele, conheço gente que corre mesmo, rápido, e voa, e faz mil coisas, correndo, sempre, e, mesmo assim, vush!, o tempo passa. Nem Einstein descobriu como fazê-lo parar, com toda a sua relatividade que, de tão popular, virou frase de banheiro: "o tempo é relativo, só depende de que lado da porta você está". E é irônico, o bicho: no melhor da festa, resolve andar ainda mais rápido.

Ontem sonhei com uma pessoa que vejo passar na minha frente com freqüência e que, infelizmente, só me escapa. Sei que o tempo não é razoável, cada dia a mais é um dia a menos, mas que fazer? É chegar e dizer "então, agora?" Não dá. Embora saibamos do tempo finito, há ainda certa etiqueta a ser seguida. Que eu odeio, ah, como odeio, mas chegar "então, agora?" Simplesmente não dá. E é para morrer que fico quando o tempo do dia está acabando e ele me escapando, por entre copos de cerveja, músicas estridentes, meus beijos de "oi, tudo bem?", meus olhos que se distraem com uma bobeira qualquer, uma frase errada ou aquela que não disse.

Fosse outro, não me incomodaria tanto, pois é bem verdade que o que me aflige pode não causar nenhum desconforto nele. Talvez fosse mesmo o caso de ouvir "não quero", se conseguisse quebrar a barreira. Mas sabe quando se tem quase certeza da vitória? Às vezes acontece, e é essa a história. Sinto como se tudo dependesse de mim para vingar. Que é só eu conseguir ultrapassar a parede invisível para tudo acontecer. Que ele jamais diria "não quero" se soubesse do que penso a respeito.

Mas eu ainda espero um sinal concreto, cética que sou. Esse papo de intuição, feminina ainda mais! Balela! Eu sei do risco, um dia aqui, outro ali, e quando vemos, vush!, o tempo passou como um foguete. Que ele corre mesmo, não é piada. Eu própria observo às vezes - é preciso muita concentração - e o sinto passando por mim, quase o enxergo com duas perninhas correndo muito, mais do que o recorde de atletismo. Mas preciso de um sinal concreto.


clarissa

26 de set. de 2006

Soneto da separação

Abrimos espaço para Vinícius de Moraes:

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


clarissa, mrs. mojo rising, bonnie

Quem há de negar que é superior?

O amor nem sempre é sexual.
Entende-se a frase,
mas não se crê.
Dizer "eu te amo" complica.
Mulher? Lésbica.
Homem? Apaixonou-se. Quer fornicar.
Ora, ora, cambada.
Graças ter capacidade
para amar infinitamente
sem nada do corpo em troca querer.
Sem querer casa, filhos, família.
Sem nada exigir.
Sem fidelidades imbecis.
Sem ciúmes.
Afinal, quantos amigos não cabem
em nosso combalido coração?


clarissa

18 de set. de 2006

We would be better without you

Muita gente diz que não mudaria nada em sua vida se pudesse voltar no tempo. "Me arrependo do que não fiz", costuma-se dizer. Pois nós mudaríamos quase tudo entre os 20 e os 28, a partir de um encontro que, feliz ou infelizmente (não sei se é mais reconfortante não se sentir culpada), aconteceu a nossa revelia.



clarissa, bonnie, mrs. mojo rising

14 de set. de 2006

Equívoco

Não somos estranhos.
Eu não odeio estranhos.


mrs. mojo rising

13 de set. de 2006

Em Porto Alegre - Parte II

Andei uns quinze minutos pela rua desconhecida. Não fazia idéia de onde estava. Ninguém fazia. Idéia de onde eu estava. Saí de casa depois de meu amigo, que fora trabalhar. Não por acaso. Não, nada desse papo "não há coincidência, tudo tem um motivo, o destino, o universo e blábláblá". Quero dizer que eu quis, conscientemente, cair naquela rua desconhecida e movimentada da cidade para mim desconhecida e bela. Meti-me por entre as pessoas que andavam de um lado para o outro, pelos camelôs, trombei num senhor que me disse um palavrão. Olhei para o céu e me senti livre, mas foi estranho. Entendi que liberdade tem a ver com esquecimento, ausência, fuga. Ninguém sabia onde eu estava, nem eu mesma. Sabia o nome da rua, da cidade, do estado, do país, mas, bah (irresistível), isso não é saber onde se está, certo? Claro que sim. Eu não sabia para que lado ficava a casa do meu amigo, por exemplo. Para onde ficava minha casa, tão distante? Não sabia. Isso é a liberdade. É isso. Não é possível ser livre quando as pessoas que sabem quem você é sabem onde o encontrar.

Mas de repente eu avistei um prédio já meu conhecido: o Mercado Público. E de repente de novo, alguns segundos depois, o meu amigo passou do meu lado. Eu o chamei, diabos, eu poderia ter simplesmente continuado a andar, porque ele não tinha me visto. Mas eu o chamei. E descobri que minha impulsividade é maior do que meu desejo de ser livre.


clarissa (claro, como não?)