23 de fev. de 2010

sem título

não estou apaixonado, não é isso. mas você tem razão, tem alguma coisa além do tesão, não é só tesão, não quero só comê-la. quero comê-la também. tá bom, eu quero muito comê-la e não quero namoro, mas também não quero que ela vire um puff depois. também não quero conversar, mas só porque não sou muito de papo. mas eu quero que ela fique ali por perto. eu quero saber que ela está por perto. eu quero senti-la por perto. ouvi-la abrir a porta da geladeira e pegar a garrafa de tampa verde e quase deixá-la cair porque é pesada e soltar um "puta que pariu" baixinho porque já está tarde. quero ouvir seu xixi na madrugada desse lado da Tijuca silenciosa e imaginar sua cara de medo de que eu possa estar ouvindo porque ela sabe que as paredes do meu apartamento permitem que o som vaze com muita facilidade. não quero dormir de conchinha que isso é muito brega, mas quero fazer cócegas nas suas axilas pela manhã só para vê-la com raivinha porque eu gosto quando ela faz essa cara, ainda mais com remela. não quero vê-la escovando os dentes porque tenho nojo, mas quero vê-la passando batom, dar tchauzinho sem beijo para não borrar a pintura e bater a porta com força por mais que eu peça para não fazer isso porque a porra da porta está quase caindo e eu não tenho dinheiro para consertar.

20 de fev. de 2010

condição

sabia, mas não queria. clássico. fingir é a palavra. melhor do que o tanto de tempo que ficou só. antes acompanhada. era carinhoso, presente, sentia que gostava dela. não amor, mas tudo bem: aprendeu a não exigir demais. não havia mais espaço para desejar além, tudo ocupado com a realidade. quando a realidade grita, a solução fica entre se adaptar ou viver se lamentando. quando se é terra com terra, não é possível partir para um mundo imaginário - fica-se condedado à sanidade.

difícil fingir, porém, quando se veem os rastros. por favor, apague aquela mensagem, não deixe o email aberto, não fique assim com esses olhos de comer. não na sua frente. não na frente de todos. vergonha, não hipocrisia. não era difícil a não ser quando os outros percebiam. saber-se enganada fazia parte há algum tempo da sua sobrevivência sem sofrimento, mas que os outros soubessem exigia atitude que não queria tomar.

9 de fev. de 2010

fim

então por bobeira
bobeira de passado
machucado na cabeça difícil de sarar
sara não
fica martelando latejando
fica lá que não sai de jeito nenhum
fazendo pensar coisa ruim
só coisa ruim na cabeça doente
que mesmo sabendo de tanta coisa melhor
mais importante altruísta e de mudar o mundo
não pensa

2 de fev. de 2010

visões

caiu no erro de pensar que poderia saber tudo como naquele dia que achou que soubesse até o que eu estava pensando e então perguntou por que estava emburrada só para saber se diria o que ele achava que sabia e eu disse que eram problemas no trabalho o que era verdade pelo menos naquele dia mas não acreditou porque caíra no erro.

aprendi a interpretar seu rosto como naquele dia que achei que soubesse até o que ela estava pensando e então perguntei por que estava emburrada só para saber se me diria a verdade e ela disse uma coisa que nitidamente não era verdade pelo menos não naquele dia mas fingi acreditar embora não tenha certeza de que a convenci.

não sei até que horas fiquei olhando para o teto branco nem lembro se o vi indo embora às vezes parece que não estou viva mas dispenso terapeuta para me dizer o óbvio saco tanto de neurose que conheço mais as suas do que ele mesmo e realmente penso que meu problema financeiro é maior do que sua ausência só que ele não dói e eu não gosto de dor.

ficou olhando o teto branco enquanto eu explicava parecia estar morta acho que seria bom fazer terapia foi o que me ajudou desde o acidente não dei conta me desculpe não foi de propósito não sei mais o que dizer só que talvez tenha feito por achar que você também fazia se precisar de grana pode pedir fique em paz.

estou com raiva raiva raiva.

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