13 de fev. de 2006

Ganhando experiência

Modéstia à parte, eu fui muito bem na minha primeira missão. Já falei sobre isso, sei. O chefe caiu de amores por mim, disse que nunca havia visto uma moleca tão inexperiente fazer um trabalho impecável.

- Eu nasci para isso.
- Tô vendo, tô vendo - dava baforadas num charuto fedorento com um tique sinistro nos lábios.

O reconhecimento é sempre bom, mas devido a isso, minha segunda missão foi assustadora.

A organização estava precisando de armas. Eu e outro rapaz, que já estava há uns cinco anos no esquema, fomos recrutados com o objetivo de interceptar um carregamento de armas para o paiol da Aeronáutica no Rio, o Parque de Material Bélico, no bairro da Ilha do Governador. Na madrugada de uma sexta-feira, furtamos 11 fuzis HK 33 e cinco pistolas calibre 9mm.

Nosso plano era muito simples e, por isso mesmo, muito bom. Além disso, graças aos deuses protetores dos foras-da-lei, as reações correram dentro do esperado. Homem é homem, ou seja, fica babaca quando vê mulher bonita com pouca roupa fazendo cara de frágil e fácil.

Ficamos a umas duas quadras do paiol, em uma rua em que o carregamento seria obrigado a passar. Fingi cair e torcer o pé quando eles dobraram a esquina. Os “bons” moços pararam para me socorrer - madrugada, a rua deserta, pecado deixar uma moça tão desamparada. Eram dois, apenas, e os dois desceram, claro. Ambos queriam tirar suas casquinhas da indefesa aqui. Sempre pensei que esse tipo de coisa fosse feita com mais segurança. Confesso que fiquei decepcionada – fácil demais. Mas nunca reclamo da sorte. Todo sucesso depende de um bocado de sorte e, modéstia à parte, novamente, eu nasci com meu bundão virado para a lua. Ah, não sei de nada nesta vida, mas quanto a isso, menor dúvida.

Como desceram para ajudar uma pobre e linda menina acidentada, não empunharam suas armas. Meu parceiro, que estava do outro lado da rua, deitado no chão como um mendigo, veio por trás e rendeu-os. Ficamos com as armas que seriam entregues ao paiol e com as particulares dos dois manés. Não os matamos, embora vontade não nos faltasse, mas é sempre melhor não deixar mortos. A repercussão é menor. Só um boboca vaidoso gosta de se ver nas páginas de jornais, na televisão. O bom profissional não quer ser reconhecido nunca. O que importa são os resultados.

O sucesso da operação foi tamanho que o rapaz passou a ser chamado de Clyde. Nós nos entendemos realmente bem, desde o primeiro momento. Conseguimos nos comunicar com o olhar até hoje. Incrível! E é óbvio que nos demos bem em outros assuntos também, mas isso é história para outro texto. Prometo que contarei com detalhes.


bonnie

2 comentários:

Anônimo disse...

Homem é a criatura mais previsível e, portanto, manipulável que existe.

Anônimo disse...

É verdade, é verdade. Uns bobocas.

Mas há as exceções. O Clyde, por exemplo. :)

Beijos.