15 de jun. de 2006

Um dia

Foi um dia assim que imaginei para a gente: eu dizendo coisas bobas, emocionada com uma rosa de Drummond no asfalto, e você, embora não entendendo a metáfora, feliz por estar comigo. Eu não acharia nada esquisito, o seu diferente-mas-igual me animava. A sua tentativa de ser doido. A gente andaria pelas ruas de qualquer país, porque a gente inventaria o país, e depois de anoitecer, quando a lua, lá em cima, desafiasse nossas vistas, a gente faria juras de amor como aquelas que não se cumprem, justamente porque são ditas nos momentos em que se dizem coisas impossíveis. Só os apaixonados são capazes de pensar no impossível.

E eu, que já pensei tantas vezes no impossível, pensei tanta coisa sobre você e sobre a gente. Eu pensei que seria um tempo indeterminado esse de a gente estar junto, como um dia você pediu e eu assenti. E é incrível como, agora, não parece ter sido você. Ontem mesmo sonhei com você, mas não era você. Era você sem ser você. No meu sonho, você não era quem eu achava que era, mas era quem é de fato. Talvez por isso eu esteja bem sem você e em ver você bem sem mim. Porque, de novo, eu havia me apaixonado por alguém que não existe, e você também. Eu não sou aquela, você não é aquele. A gente se confundiu e, agora, não pode mais andar pelas ruas de qualquer país, não pode mais inventar nada nem fazer promessas impossíveis. A diferença entre a gente é que eu acho que sou melhor do que aquela que você imaginou. Mas é claro que o fato de eu ser eu influencia nesse meu juízo de valor.


clarissa

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com seu juízo de valor mesmo sem ser vc, rs!
Aliás, acho que vai além do juízo de valor, é uma realidade mesmo...
Beijo

Anônimo disse...

Isso aí, Fellow. Valeu pela cumplicidade. :)

Beijos.

Testando disse...

Indescritível o q se sente ao ler o texto, sutil, delicado,alegre, melancólico...milhares de de sentimentos