O bichinho ficou ali, durante horas, sofrendo com uma costela quebrada. Quer dizer, não sei se era mesmo uma costela quebrada. Poderiam ser duas costelas quebradas. Ou outra coisa quebrada. Bicho não fala. O certo era apenas que havia algo quebrado dentro daquele corpinho minúsculo, frágil, porque ele não conseguia andar.
O bichinho morreu, enfim. Fiquei aliviada, em parte, pois, com a morte, o sofrimento acabou. Mas comecei a me sentir um pouco culpada, e depois mais culpada, e depois infinitamente culpada, de uma culpa que me curvava os ombros. Achei que deveria ter feito algo, ter trocado de lugar com ele, por exemplo. E nem o fato de ser impossível fazer isso aliviava minha culpa. Eu devia ter trocado de lugar e pronto. Afinal, que diferença faz para a continuidade das coisas que o cadáver seja dele ou meu?
Acho que pensei tanto nisso que, na noite seguinte, comecei a sentir dor no lado direito da minha coluna. Foi uma dor forte, de me prejudicar a respiração. Como se eu tivesse quebrado uma costela. Quer dizer, nunca quebrei uma costela, não sei se a dor é realmente essa. Na hora, achei que sim. E pensei que, tal qual o bichinho, fosse morrer. Resignei-me com o destino e fiquei até alegre, pois não sentia mais culpa. Era como se eu me redimisse, dizendo "olha, bichinho, eu vou morrer também, viu?"
Mas aqui estou, escrevendo. E a dor passou.
mrs. mojo rising
5 de jun. de 2006
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7 comentários:
Muito bom! Muito bom!
Bem, agora é a hora de dizer: não pára, não pára!... ;-)
Oi, Fábio. Não pararei, não pararei. :)
Beijos.
Oi, Fábio. Não pararei, não pararei. :)
Beijos.
É a vida que segue...
[]´s
Pois é, Baiano. Essa é uma verdade incontestável. O tempo não pára mesmo, nem pra gente sofrer um pouquinho mais em paz, né? :) Mas acho que essa é a grande sabedoria da vida - não parar.
Beijos.
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