18 de nov. de 2011

para Nira Bessler*

perguntam quando mas
não adianta imaginar horário
a questão é como
e estou falando de tudo
tudo tudo tudo tudo
daqui de dentro
do alto
do avesso
daqui de fora
dali
de baixo
do outro lado do oceano
da caixinha de cada um guardada há tempos
ou minutos
que não se quer abrir
abarrotada de ideias e mágoas
que se quer
e não se quer mudar


*pela motivação :)

7 de jul. de 2011

minha

se te falo em alto e bom som,
então vê:
não te aproximes
nem critiques meus verbos antiquados em segunda pessoa,
no sul ainda se usam.
se é ridículo continuar a se falar de certos problemas
é porque não os solucionaram,
não é óbvio?
se me chamas de vadia não reclamo da palavra.
a questão é: por que te incomodas?
por que achas que mereço o desprezo, a porrada, o escárnio
se me resolvo deitar com qualquer um?
e se me deito com qualquer um e não contigo,
que grande crime cometo?
posso me deitar com toda a sorte de maltrapilhos e marginais,
mas não contigo, o queridinho de nove entre dez moçoilas casadouras.
meus critérios são subjetivos, pessoais e intransferíveis,
e está bem tarde para entenderes,
mas há de se ver!

8 de jun. de 2011

fala!

não sei ler olhares.
por isso gosto de voz,
apesar das discrepâncias entre os conceitos,
dos significados imprecisos ou exagerados.
preciso saber sua opinião sobre aquela música,
aquele filme, preciso saber o que vamos fazer
para impedir mais uma arbitrariedade do Estado,
se você pegaria em armas ou seguiria no partidão,
se prefere filme francês ou hollywood ou os dois ou nenhum.
aceito palavras também.
pode me escrever cartas enormes, ou emails,
comentando sobre a novela, seu time,
o trabalho, qualquer coisa.
só não fique aí parado sem me dar pistas.
só não me faça ter de adivinhar o que há aí dentro ou,
pior, descobrir que não há nada.

13 de mai. de 2011

O último beijo brincou na minha memória por muito tempo, mas não por saudade. O "nunca mais" sempre me intrigou, especialmente por ser raro reconhecer o seu início. Foi um beijo bobo, sem língua, nos veríamos no dia seguinte. Um beijinho de despedida, o tempo suficiente para que o motorista do carro detrás não desancasse a buzina. Passei para o banco da frente, o taxista seguiu, bocejei enquanto admirava suas grossas panturrilhas caminhando pela rua dos quebra-molas. Nem uma sombra de suposição cobria meu amor, pelo contrário: meu sexto sentido me desarmava constantemente. Embora dolorosa, a imagem desse fim completamente ignorado, e de minha percepção ingênua sobre certos aspectos da vida amorosa, me vinha tão e cada vez mais bonita, que passei a ficar contente por fazer parte dela.

22 de mar. de 2011

sem passos no outro cômodo
mas respiração de consultório
de aula de pilates

chama espirro o evidente murmúrio
respondo o convencional
não insisto amiúde

quisera interromper
esclarecer obsessivamente a questão
enrouquecer de tanto exortar
exercitar um tempo anterior
subtrair o controverso ato

me detém a força da acusação inconsciente

10 de fev. de 2011

sem título

sangra
em paredes nuas brancas
sem sofrimento
ato contínuo desde um instante
sem precisão
um instante de música
resignação do corpo neste espaço-tempo
agora que aumentaram a dose

mas sangra
e se confunde com os cubos vermelhos
que ela desenhou
cubos que se interceptam
unidos pelo grafite
leves como o sono do gato

7 de fev. de 2011

s/título

alguém poderia ter dito como seria? talvez eu tivesse pedido uma outra forma de pagamento. parcelar em mais vezes para diluir o sofrimento ou pagar logo tudo e ir embora, ficar livre mesmo que para ir de vez. esse tipo de parcelamento que me foi imposto é cruel, vem pingado e pesado, prestações altas demais, e sem fim. quando penso que cessou, lá vem o bicho comer mais um pedaço do meu fígado, sem esperar o tempo necessário para o órgão se recompor.

gostaria de ter tido a chance de saber antes. há quem diga que todo mundo sabe, que temos aqui o pedimos. eu não me lembro e não há nada que me prove que essa teoria seja verdadeira. outros dizem que é destino. outros chamam de karma. ou são os mesmos? minha mente com inclinação científica me diz que nada faz sentido a não ser o que se pode conhecer. mas o que se pode conhecer? estou a ponto de não reconhecer nem o que vejo, ouço, sinto, penso. estou cada vez mais robotizada, cansada, desesperançada, misantropa. e triste por estar cada vez mais assim. muito triste. muito decepcionada comigo mesma. desenvolvendo tiques nervosos, me negando a fazer até as ações de que mais gosto.

uma decisão apenas já tenho. uma questão que é sempre cara às mulheres e que, até hoje, me dividia. não vou reproduzir. não vou gerar novo ser. não vou trazer para isso que eu não compreendo uma mente a quem não posso dar a menor garantia de que vai valer a pena. até hoje achei que valia. mas já estou começando a desconfiar.