10 de fev. de 2011

sem título

sangra
em paredes nuas brancas
sem sofrimento
ato contínuo desde um instante
sem precisão
um instante de música
resignação do corpo neste espaço-tempo
agora que aumentaram a dose

mas sangra
e se confunde com os cubos vermelhos
que ela desenhou
cubos que se interceptam
unidos pelo grafite
leves como o sono do gato

7 de fev. de 2011

s/título

alguém poderia ter dito como seria? talvez eu tivesse pedido uma outra forma de pagamento. parcelar em mais vezes para diluir o sofrimento ou pagar logo tudo e ir embora, ficar livre mesmo que para ir de vez. esse tipo de parcelamento que me foi imposto é cruel, vem pingado e pesado, prestações altas demais, e sem fim. quando penso que cessou, lá vem o bicho comer mais um pedaço do meu fígado, sem esperar o tempo necessário para o órgão se recompor.

gostaria de ter tido a chance de saber antes. há quem diga que todo mundo sabe, que temos aqui o pedimos. eu não me lembro e não há nada que me prove que essa teoria seja verdadeira. outros dizem que é destino. outros chamam de karma. ou são os mesmos? minha mente com inclinação científica me diz que nada faz sentido a não ser o que se pode conhecer. mas o que se pode conhecer? estou a ponto de não reconhecer nem o que vejo, ouço, sinto, penso. estou cada vez mais robotizada, cansada, desesperançada, misantropa. e triste por estar cada vez mais assim. muito triste. muito decepcionada comigo mesma. desenvolvendo tiques nervosos, me negando a fazer até as ações de que mais gosto.

uma decisão apenas já tenho. uma questão que é sempre cara às mulheres e que, até hoje, me dividia. não vou reproduzir. não vou gerar novo ser. não vou trazer para isso que eu não compreendo uma mente a quem não posso dar a menor garantia de que vai valer a pena. até hoje achei que valia. mas já estou começando a desconfiar.