31 de out. de 2006

Sonho de consumo do momento



Gabriel... Nós nem sabemos o nome completo do moço, mas estamos completamente apaixonadas por ele.

24 de out. de 2006

Perfect Day



Just a perfect day
Drink sangria in the park
And then later when it gets dark
We go home

Just a perfect day
Feed animals in the zoo
And then later a movie too
And then home

Oh it's such a perfect day
I'm glad I spend it with you
Oh such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

Just a perfect day
Problems all left alone
Weekenders on are own
It's such fun

Just a perfect day
You make me forget myself
I thought I was someone else
Someone good

Oh it's such a perfect day
I'm glad I spend it with you
Oh such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

You're going to reap
Just what you sow
You're going to reap
Just what you sow
You're going to reap
Just what you sow
You're going to reap
Just what you sow


(Velvet Underground)

mrs. mojo rising

20 de out. de 2006

Carta de gata

Eu era uma gata preta e derrubava as coisas da sua casa para que você me deixasse sair. Você sabia que, se eu quisesse, poderia me desviar de todos aqueles porta-retratos e os outros objetos feios e inúteis que ocupavam sua estante. Quando eu derrubava, era porque precisava sair, precisava que você abrisse a porta e me deixasse ir. E eu sempre voltava.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, eu não voltava por causa da comida ou da casa, não. Eu voltava porque sentia sua falta. É verdade, não faça essa cara de humano descrente, vocês ficam horrorosos, patéticos, tentando parecer espertos e desconfiados como nós. Já reparou que, quando eu voltava, me enroscava nas suas pernas e lhes dava umas belas lambidas? Acha que faço isso com qualquer um? Você é um ser inacabado, sua espécie raramente sabe usar o cérebro que possui (embora conheça aritmética, literatura e a lua), vocês não conseguem lamber-se a si próprios nas partes íntimas (em geral, pelo menos) e não são capazes de se espreguiçar como nós, mas, ora, que grande droga ter de reconhecer isto!, simpatizo com você, de verdade.

Eu derrubava as coisas da sua estante entulhada de objetos feios e inúteis - reconheça! - para sair, sempre marcava com outros gatos da rua, os que não tinham casa. Você sabia da minha predileção - os vira-latas, a ralé, a gataria maltratada da Barão e arredores, a matilha suja e (en)cantadora. Mas eu sempre voltava, não é? Sempre. Se não voltei dessa vez, acredite que foi por um bom motivo. Ah, meu caro ser humano, foi, sim. Saiba que estou feliz com minha decisão. Não vou negar que sinto falta do conforto - a comida fácil, o sofá quentinho, o monitor do computador (tão bom dormir ali em cima), aquelas roupas bem passadas onde eu me jogava, a tábua de passar, ah, grande tábua de passar, aquelas luzes na TV etc etc etc. Mas sinto falta principalmente de você. Sério, seu bobo, não faça bico. Sabe que o escolhi à primeira vista, não sabe? Mas estou feliz, estou muito feliz, e é isso que dois amigos devem desejar um para o outro, certo?

Uma lambida nas suas pernas,

você sabe.


clarissa

8 de out. de 2006

Vamos fugir?

O mocho e a gatinha foram para o mar
Num lindo bote verde-ervilha
Eles tinham mel e grana a granel
E uma nota de um milha

O mocho olhou para o céu
E cantou na viola de lata
"Que linda gata, que linda gata
Deus me deu
Me deu, me deu
Que linda gata Deus me deu"

O mocho e a gatinha foram para o mar
Num lindo bote verde-ervilha
Eles tinham mel e grana a granel
E uma nota de um milha

O mocho olhou para o céu
E cantou na viola de lata
E de braço dado, na praia do lado
Saíram a dançar sob a luz do luar

Luar, luar,
Luar, luar


(The owl and the pussy-cat - trecho extraído da tradução de Augusto de Campos - belamente interpretado por Adriana Partimpim no DVD do show homônimo)

3 de out. de 2006

Do querer e do poder

Caminha como se não.
Parece viver outro tempo.
Possui mãos que tocam algo
que nem se sabe existir.
Fala como se dançasse
e dorme como poema.

Parece viver outro lugar.
Seu ouro está escondido
em uma cor que não é de ouro,
porque é de outro tipo.
Sabe que me encanta,
que, se eu fosse quem já fui,
morreria em sua vez.

Um dia percebi,
quando falou e eu não ouvi,
boba que fico quando perto.
Olhos de vidro através do
meu nu, não físico,
mas químico, psicológico,
frágil.
Disse-me:
"Eu entendo, mas não posso".

Eu entendi.


clarissa

1 de out. de 2006

Um chato para Clarissa

Eu, às vezes, queria fazer ou descobrir, ouvir ou falar, ler ou escrever uma coisa assim que me fizesse entender por que estou aqui até agora. Uma coisa que me fizesse dizer "ahhh, por isso nasci". Durante um tempo, cheguei a achar que tinha uma missão, e, devo confessar, essa idéia ainda não me é de todo estranha - talvez por isso não tenha tido coragem para "aquilo" até hoje. Ah, esperança, já dizia o Manuel que "peso mais pesado não conheço não". Mas, quase três décadas depois, ando ainda (preciso de um sinônimo para essa palavra) à procura de tal tarefa. Nada me parece mais razoável do que minha incrível habilidade para responder mal, provocar e irritar meus contemporâneos, mas isso não é missão que se apresente, pois não?

Ou sim? Mania que a gente tem de grandeza. Não é totalmente plausível que eu esteja predestinada a ser uma chata? Simplesmente uma chata. E, puxa!, até que uma chata do meu tipo (existem vários tipos de chatos, gostaria de deixar bem claro) é uma figura muito importante na vida de um ser humano, justamente para combater a mania de grandeza que eu mencionei no início deste parágrafo. (Parágrafo criado, na verdade, devido à crítica de um amigo, que nem sei se ainda - preciso de um sinônimo - me lê, sobre a desimportância de textos de internet, tão minúsculos e efêmeros. Se ele já reclama de dois, três, quatro parágrafos, imagina de um!) Contra tal mania, nada melhor do que um chato para dizer "não, discordo", "ah, que grande bobagem você disse", "tem certeza? Qual é a sua fonte?", "você isso, você aquilo, você aquilooutro" etc etc etc. E um chato nunca se cansa.

(Vamos ao terceiro parágrafo, então?)

Às vezes acontecem coisas, pequenas coisas, coisas corriqueiras que quase me fazem pensar "é por isso, é claro". Pessoas, lugares, comidas... Mas lá vem a maldita mania de grandeza (acho que estou precisando de um chato por perto). É que lá bem no fundo eu ainda - um sinônimo - acredito que há algo me esperando na próxima esquina, no próximo dia, na próxima aula, no próximo encontro, no próximo próximo. Acredito que alguém ou algo, um marciano ou uma pedra ou uma gata (conheço uma, pretinha de olhos amarelos, muito suspeita) vai me chamar sussurrando "ei, você, venha cá, pegue sua missão" e eu, disfarçadamente, vou pegar um papel onde estará escrito o que é que vim fazer aqui, diabos! Preciso mesmo de um chato mais chato do que eu para me colocar no meu lugar de simples mortal.


clarissa