1 de out. de 2006

Um chato para Clarissa

Eu, às vezes, queria fazer ou descobrir, ouvir ou falar, ler ou escrever uma coisa assim que me fizesse entender por que estou aqui até agora. Uma coisa que me fizesse dizer "ahhh, por isso nasci". Durante um tempo, cheguei a achar que tinha uma missão, e, devo confessar, essa idéia ainda não me é de todo estranha - talvez por isso não tenha tido coragem para "aquilo" até hoje. Ah, esperança, já dizia o Manuel que "peso mais pesado não conheço não". Mas, quase três décadas depois, ando ainda (preciso de um sinônimo para essa palavra) à procura de tal tarefa. Nada me parece mais razoável do que minha incrível habilidade para responder mal, provocar e irritar meus contemporâneos, mas isso não é missão que se apresente, pois não?

Ou sim? Mania que a gente tem de grandeza. Não é totalmente plausível que eu esteja predestinada a ser uma chata? Simplesmente uma chata. E, puxa!, até que uma chata do meu tipo (existem vários tipos de chatos, gostaria de deixar bem claro) é uma figura muito importante na vida de um ser humano, justamente para combater a mania de grandeza que eu mencionei no início deste parágrafo. (Parágrafo criado, na verdade, devido à crítica de um amigo, que nem sei se ainda - preciso de um sinônimo - me lê, sobre a desimportância de textos de internet, tão minúsculos e efêmeros. Se ele já reclama de dois, três, quatro parágrafos, imagina de um!) Contra tal mania, nada melhor do que um chato para dizer "não, discordo", "ah, que grande bobagem você disse", "tem certeza? Qual é a sua fonte?", "você isso, você aquilo, você aquilooutro" etc etc etc. E um chato nunca se cansa.

(Vamos ao terceiro parágrafo, então?)

Às vezes acontecem coisas, pequenas coisas, coisas corriqueiras que quase me fazem pensar "é por isso, é claro". Pessoas, lugares, comidas... Mas lá vem a maldita mania de grandeza (acho que estou precisando de um chato por perto). É que lá bem no fundo eu ainda - um sinônimo - acredito que há algo me esperando na próxima esquina, no próximo dia, na próxima aula, no próximo encontro, no próximo próximo. Acredito que alguém ou algo, um marciano ou uma pedra ou uma gata (conheço uma, pretinha de olhos amarelos, muito suspeita) vai me chamar sussurrando "ei, você, venha cá, pegue sua missão" e eu, disfarçadamente, vou pegar um papel onde estará escrito o que é que vim fazer aqui, diabos! Preciso mesmo de um chato mais chato do que eu para me colocar no meu lugar de simples mortal.


clarissa

3 comentários:

Anônimo disse...

Sobre a parte do chato, é verdade! É bom mesmo você arranjar um bom chato pra te pôr no seu lugar. Isso aí! Com direito a tudo, espartilho, chicotes e cera quante..., enfim, essas coisas.

Sobre o outro lado da estória, o lado da "Missão", não quero te desanimar, mas não tem "Missão" nenhuma. Pelo menos não assim, com maiúsculas. Agora se você prestar bastante atenção vai perceber que o mundo precisa de uns estorvos, de uns minúsculos pentelhos, quase invisíveis, como alguns de nós, que nasceram pra duvidar e discordar. Uns chatos, que mesmo com tudo dizendo pra toda a boiada correr pro lado do desfiladeiro, lá estão eles dizendo "não, não concordo". É, eu sei, assim ficou ruim, tento de novo (agora com mais soberba!): nós somos como uns vírus instalados dentro de uma imensa colônia de bactérias; estamos aqui para, cada um no seu microponto da colônia, iniciar uma contra contaminação, uma inversão da infecção generalizada de estupidez que assola toda essa sociedade. hahahaha Aí já virou uma MISSÃOZONA, né? Melhorou? Não muito? É, foi o que deu. :)

Saudades docê. Beijão.

Anônimo disse...

Vamos discutir sobre isso tomando um chope essa semana? :)

Beijos.

Anônimo disse...

Concordo! :))