22 de set. de 2007

O pulo

Não tinha motivo, mas a vontade veio de um jeito como se tivesse nascido para fazer aquilo. Eram cinco da manhã, desde três acordada, uma insônia de séculos, cigarro não, parara de fumar. Água, água, muita água. Xixi, xixi, xixi. Andando na ponta dos pés como se isso evitasse barulho, como se a ponta dos seus pés não fossem tão duras quanto o salto do sapato.

Um dia antes, pensou tanto nele que viu seu rosto em muitos lugares, atrás da árvore, no cachorro da vizinha, no moço do filme ruim, no garçom, no asfalto, onde as rodas dos carros tropeçavam, os buracos da cidade grande província que é o Rio de Janeiro transformando-se no rosto daquele que era o escolhido de então, o mais especial, o mais inesperado, o mais merecedor de um amor guardado há tanto tempo para quem o mereça, para quem faça seu coração se recompor.

E agora, ali, sem conseguir dormir, a casa inteira falando com ela, a geladeira abrindo a porta como boca, as janelas eram grandes ouvidos, uma orquestra tocando dentro da cabeça e, apesar de tudo, nunca se sentira tão lúcida. Não tinha motivo, e incomodava-lhe aquela idéia tão clichê, tão comum, tão mais do que tanta gente pensa, não só na literatura, na vida real mesmo, na vida de todo mundo.

Mas a vontade era imensa, era inteira, era ela dominada, era uma vontade anterior a sua própria existência, e nem o rosto que surgiu na sua frente, nem o grito do rosto do amor que há tanto esperava, que tanto a acalmava, conseguiu segurar o seu pulo fenomenal. Para cima, para o alto, para as nuvens, embora a realidade tenha mostrado o contrário.


mrs. mojo rising

3 comentários:

Anônimo disse...

Sempre fantástica, Mrs. Mojo! Saudade de vc!
Sabe, estou meio distante, meio escondido, meio com insônia tb. Coincidência eu parar aqui e ler apenas esse texto. Tb ando sem paciência (suas amigas que me desculpem, leio os posts delas amanhã). Mas sempre tem algum que eu gosto mais, que parece comigo. (Rá! e eu nem comparei nada, hahahahah!)
Aliás, isso parece aquela antiga sensação que "o Renato escreveu esasa música pra mim. Só pode!"
Bom, vou te ligar amanhã. Dessa vez acerto o telefone.
Vc deveria me ver. Estou cada vez mais bonito! Mas vc iria se apaixonar...
Beijos,
Fellow

Anônimo disse...

Como "iria"? Eu já sou apaixonada por você, gatinho. :) Mas você não me ligou!!! :(

É muito bom escrever algo com o qual você se identifique. Você sabe que é um dos meus leitores mais atentos, né?

Saudades de você, porra.

Beijos.

Anônimo disse...

úúú, ela se jogou da jenela do quinto andar, nada fácil de entender...

denso, forte, e bonito.

beijo grande do seu preto!