19 de jul. de 2006

Sono

Eu fugi para o outro lado, o lado oposto. Pela química, não só fumaça, pela cabeça, mais do que medo. Calculei milimetricamente a distância de ver você e você não. Não só vergonha, mais do que sem controle. Tanta coisa consumindo meu corpo, mais mal que bem. Do bem, a vontade de continuar, não lembrar, acreditar, torcer, rezar até, por que não? - se não se ganha, também não se perde mais do que minutos. Do mal, desse há muito, infinito, mas ainda ganho a luta e ainda não é a prorrogação. Nos pênaltis, a sorte ajuda.

A fuga é providencial. Alivia. Afastada, respiro melhor. Nem tanto - rinite, fumaça -, mas isso é outra história. Respirar nunca me foi mesmo movimento fácil, não o faço sem sentir, natural. Costume, então agüento. O que é que não se agüenta nessa vida? Disso poderiam falar os suicidas, antes do ato. Mas antes do ato, quem sabe? Dizem que é sempre planejado e calado, mas sei não. Desconfio dos planejamentos e dos silêncios. Nos tropeços é que consegui as melhores cartadas. As piores também, mas isso não atrapalha minha teoria, porque as sentenças não se anulam.

É engraçada essa necessidade de vir aqui cuspir. E dolorosa, mais do que a fuga. Sim, é complicado fugir, cansa, obriga a uma atenção constante. Cuspir, também, por outros motivos, é meio óbvio - exposição, espelho, incompreensão, elucubrações, minhas e alheias. É chato explicar a piada, mas eu faço com parcimônia e paciência, tentando evitar mal-entendidos, embora ao final me esgote mais do que o próprio cuspir ou fugir. Afinal, a culpa é minha. Também seria assim com os suicidas, acredito. E como explicar a piada da morte? Mas o principal é o contraditório - por que cuspir e ter contato se tento desesperadamente fugir? Nesse caso, o suicídio é mais coerente.


mrs. mojo rising

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa coisa da fuga, do cuspe ou do suicídio. Pra mim, a curiosidade e o mistério sempre me chamaram pros dois lados. Tem algo de estranho nisso tudo que eu não sei bem definir o que é, não sei se chega a ser um desafio. Por mais que se diga em contrário, morrer é mesmo muito fácil. Sempre desconfiei das coisas simples, não consigo me afastar do fantasma do mistério. Acho que ainda vivo por isso e pelo mesmo motivo devo morrer. Não sei. ;-)

Te adoro, malu. Você é incrível nesse seu espaço. Beijão.

Anônimo disse...

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