Sempre quero algo que me tire do chão. Não, não acontece assim. Não é problema de estar careta. Muitas vezes estive mais sóbria quando não careta. E tantas outras, sozinha quanto menos sozinha.
"Sinta essa brisa", ele disse, e eu tentei sentir, e senti, e a brisa me sussurrou coisas que não fui capaz de entender. Escutei o coração do menino com olhos de vidro e pensei "não é ele". Não, não é ele que vai me tirar do chão. Talvez ninguém possa e talvez - quase certo, creio - seja cruel demais esperar isso de outra pessoa.
Tirei os sapatos, lancei-os ao ar. Os sapatos que me apertam o pé. As correntes que me prendem à terra, me arrastam para baixo, e sempre mais baixo, baixo, baixo, atravessando o chão em direção oposta à do céu com desenhos de nuvens e estrelas que já não existem.
O menino sorria, eu sorri de volta, mas não estávamos felizes. Estávamos apenas ali, caminhando, olhando em direções diferentes, embora não opostas. Eu estava ali pensando o que eu estava fazendo ali, bem ali onde nada havia que me pudesse aliviar a necessidade de querer sair do chão.
Eu estava em mim, ele, nele, e é só assim que as pessoas podem estar.
mrs. mojo rising
29 de jan. de 2006
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3 comentários:
mojo-mojo, esperta e atenta, adoro o seu estilo!
o texto está exuberante, parabéns!
grande beijo do preto que te ama!
(e que ama as outras duas também - rs!)
Como sempre, fico lisonjeada, Paulinho. :)
Beijos.
Lindo texto. Sábio. Gostei muito.
Pelo menos você sabe como é sair do chão. Pode ter sido há 20 séculos, mas nada muda o fato de que foi bom demais.
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