30 de mai. de 2007

Pausa nas pretensões literárias II

Em relação à não renovação (e não fechamento) da concessão da RCTV (canal privado de TV da Venezuela), eu me abstenho.

Abstenho-me porque, de um lado, não vejo o menor problema em se não renovar uma concessão desse tipo. Quem garante que essas concessões são benéficas? Por que determinados grupos são beneficiados em detrimento de outros? Vide o caso do governo Sarney (1985-1989), que outorgou milhares de concessões de rádio a esmo, muitas para parlamentares que votaram pela emenda constitucional que lhe deu cinco anos de mandato. Será que ainda não é óbvio que o fato de um veículo de comunicação ser da iniciativa privada não garante a tão propalada liberdade de imprensa? Aliás, liberdade de imprensa é um conceito que rende. Ainda há uma agravante em relação ao caso específico: a RCTV participou ativamente da tentativa de golpe a Hugo Chávez em 2002, um presidente eleito democraticamente, gostem ou não. Não que eu seja árdua defensora da democracia representativa. Estou apenas usando os argumentos de quem anda reclamando da não renovação. Sejam, no mínimo, coerentes, coleguinhas.

Por outro lado, não me agrada também o fato de o canal virar TV pública. Na minha desconfiança em relação a governos, é óbvio que incluo o da Venezuela. Seus interesses diferem, neste momento, dos interesses da iniciativa privada que tomava conta da RCTV, mas ambos possuem algo em comum: o desinteresse pelo povo*. Se bem que, até agora, parece que o povo é mais motivo de preocupação lá do que aqui, ainda que de uma forma populista. A decisão de não renovação do canal é uma tentativa de impedir futuros ataques ao governo que, em princípio, pode merecê-los. É uma forma de afastar uma forte oposição que, em princípio, pode ser necessária.

Para quem quiser ler uma opinião diferente da que nossos jornais andam veiculando, sugestão do Flávio: Agência Carta Maior.

* Povo no sentido de plebe, classe inferior** da sociedade, o contrário de elite.

** Inferior em relação à condição econômica, política e/ou social, no sentido de subalterno.

bonnie, a gângster politicamente correta.

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