20 de mai. de 2007

Testamento

Não sei por que fiz aquilo. Não sei por que constantemente faço coisas que não quero. É como se houvesse outra pessoa aqui dentro, mais forte, cruel, mesquinha. Quando voltei a mim, você já estava descendo as escadas, abrindo o portão, indo embora para sempre. Sim, para sempre. É mentira que só para a morte não haja solução. Isso entre a gente também não tem solução. E embora eu esteja cheia de dívidas, quase sendo despejada e com essa maldita doença, é só sua ausência que me preocupa. Estou prestes a morrer indigentemente, sem direito a funeral cheio, bonito, amigos e família chorando, e só me preocupo com sua ausência. Não é só por eu não ter mais ninguém. Não, não é só isso. Não tenho mais ninguém porque, em parte, nunca me importei com isso, nunca fiz questão de cultivar amizade, não gosto de gente. Nunca confiei nas pessoas e tenho motivo para tanto, você sabe. Aliás, só você sabe de tudo, dessa dor, interna, externa, física e psicológica. Só você sabe o quanto tem sido difícil viver e que me assusta mais a hora da morte do que a morte em si. Pelo que já li sobre o assunto, só você me fez sentir algo próximo do que se chama de amor. Só por você senti falta de ar, insônia e taquicardia. Só em você passei um dia inteiro pensando. Só por você tive vontade de largar tudo, se eu tivesse tudo. Só por você já pensei em morrer. Agora, veja que ironia, vou morrer, mas não por você. Vou morrer sozinha, sem você, por culpa dessa outra que vive dentro de mim. Deixei você descer as escadas, falei coisas nas quais não acredito, disse o oposto do que gostaria de ter dito. E é para sempre. Mas não por que vou morrer. Não é só para a morte que não há solução. Se por um milagre eu sobrevivesse, ainda assim seria para sempre.

mrs. mojo rising

Nenhum comentário: